eXTReMe Tracker

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Saul profetizou nu ???


No decorrer de minha peregrinação, tenho visto e ouvido muitas pessoas se questionarem a respeito de I Samuel 19:18-24, pois tal passagem refere-se sobre o encontro de Saul com Samuel e seus alunos. O problema maior é que na referida passagem, algumas traduções nos informa que Saul ficou nu, diante dos profetas de Deus, então algumas pessoas se preocupam se ele ficou como veio ao mundo ou não. Neste pequeno tratado, quero mostrar que a nudez a qual se refere as escrituras não é essa nudez a qual nos conhecemos de uma forma explicita e insinuadora ao erotismo. Não quero abordar detalhes nesta introdução, mas quero despertá-los para um grande problema que temos nos dias de hoje em relação a interpretação de textos antigos.

Nós ao realizarmos uma apreensão de algum objeto ou informação, somos compelidos a fazer uso de nossa produção cultural e isto de forma inconsciente e espontânea, sem até mesmo de percebermos os mecanismos pelos quais isso se procede. A Bíblia foi escrita a mais de dois mil anos atrás, e a referida passagem tem lugar no período que vai desde o nascimento de Samuel até a morte de Saul, abrangendo um período de 115 anos; de mais ou menos 1171 a 1056 a. C., (Através da Bíblia – Myer Perarklma – pg. 51). – Temo aí mais ou menos 3.066 anos de abismo entre a cultura Judaica e a cultura moderna Brasileira, uma diferença enorme de valores sociais e culturais formando assim um enorme abismo entre as duas culturas. A cosmovisão Brasileira hodierna, influenciada pelo modernismo, tem a tendência de ver a cultura Hebraica da época de uma forma diferente. Quando interpreta-se um texto, dificilmente o texto ser interpretado sem sofre influência cultural daquele que interpreta, desta forma os nossos conceitos morais, sociais e políticos contribuem com a sua parcela de influencia.



Texto Áureo : I Sm 19:18-24



18 Assim Davi fugiu e escapou, e veio a Samuel, a Ramá, e lhe participou tudo quanto Saul lhe fizera: e foram, ele e Samuel, e ficaram em Naiote. 19 E o anunciaram a Saul, dizendo: Eis que Davi está em Naiote, em Ramá. 20 Então enviou Saul mensageiros para trazerem a Davi, os quais viram uma congregação de profetas profetizando, onde estava Samuel que presidia sobre eles: e o Espírito de Deus veio sobre os mensageiros de Saul, e também eles profetizaram. 21 E, avisado disto Saul, enviou outros mensageiros, e também estes profetizaram: então enviou Saul ainda uns terceiros mensageiros, os quais também profetizaram. 22 Então foi também ele mesmo a Ramá, e chegou ao poço grande que estava em Sécu; e, perguntando, disseram-lhe: Eis que estão em Naiote, em Ramá. 23 Então foi para Naiote, em Ramá: e o mesmo Espírito de Deus veio sobre ele, e ia profetizando, até chegar a Naiote, em Ramá. 24 E ele também despiu os seus vestidos, e ele também, profetizou diante de Samuel, e esteve nu por terra todo aquele dia e toda aquela noite; pelo que se diz: Está também Saul entre os profetas? (Bíblia de Almeida Revista e Corrigida).



Observamos que os três grupos de mensageiros enviados por Saul, ao se aproximarem de Naiote em Ramá, o Espírito de Deus os tomava de uma forma poderosa, levando-os a um transe espiritual que os faziam profetizarem juntamente com Samuel e os alunos da escola de profeta. Gostaria de perguntar-lhes: O Espírito de Deus levaria um homem a uma situação humilhante perante os seus irmãos? Não respeitaria o Espírito de Santidade, a moral e integridade de um homem, ainda de um homem ao qual Deus o havia constituído a Rei sobre o seu povo. O quer dizer com o termo nu, em pêlo totalmente ou parcialmente, ou ainda somente faltando alguma peça de roupa. Lembro-me de quando era pequeno, e ainda vejo nos dias de hoje alguém usar o termo, estar nu, para uma criança que está sem camisa. Também usamos este termo quando encontramos alguma mulher ou até mesmo homem em trajes que expõem partes de seu corpo.



Quando entendemos de uma forma literal o significado da expressão: E ele também despiu os seus vestidos, e ele também, profetizou diante de Samuel, e esteve nu por terra todo aquele dia e toda aquela noite. Os termos despiu os seu vestidos e esteve nu por terra todo aquele dia e aquela noite. Dá para imaginar Saul por todo este tempo, despido totalmente de qualquer peça de roupa, exposto a humilhação, a vergonha e conseqüentemente a desonra. Em uma interpretação literal (como lemos o a palavra, á aplicamos em nossa vida), pode resultar em grave compreensão errônea do significado das palavras e ações bíblicas.



A Bíblia de Estudo de Genebra trás: v.24 Também ele despiu a sua túnica, e profetizou diante de Samuel,e, sem ela esteve deitado em terra todo aquele dia e toda aquela noite; pelo que se diz: Está também Saul entre os profetas?


NOTA: Túnicas, nos livros de Samuel, parecem ter geralmente um significado simbólico, que freqüentemente diz respeito à monarquia (15.28; 18:4; 24:4-6). Enquanto Jônatas deu voluntariamente a sua capa a Davi, em 18:4, a ação de Saul aqui foi feita sob a compulsão do Espírito de Deus. (O Espírito de Deus deixaria alguém mostrando as suas vergonhas)


I Sm 18:4 Despojou-se Jônatas da capa que vestia e a deu a Davi, como também a armadura, inclusive a espada, o arco e o cinto.


NOTA: Como príncipe herdeiro (20:31), era de se esperar que sucederia seu pai como rei. Em 13:22, Jônatas e Saul tinham sido distinguidos do restante do povo por possuírem espadas e lanças. Nesse caso, Jônatas, ao doar a Davi sua capa e suas armas, não somente quis demonstrar a sua lealdade, mas também o seu reconhecimento de Davi como sendo a escolha de Deus para ser o próximo rei. (veja a confissão explícita de Jônatas em 23:17 e também II Sm 1.10)


I Sm 24:4-6 Então os homens de Davi lhe disseram: Hoje é o dia do qual o SENHOR te disse: Eis que te entrego nas mãos o teu inimigo, e far-lhe-ás o que bem te parecer. Levantou-se Davi e, furtivamente, cortou a orla do manto de Saul. 5 Sucedeu, porém, que, depois, sentiu Davi bater-lhe o coração, por ter cortado a orla do manto de Saul; 6 e disse aos seus homens: O SENHOR me guarde de que eu faça tal coisa ao meu senhor, isto é, que eu estenda a mão contra ele, pois é o ungido do Senhor.


NOTA: v. 4 Davi se limita a um ato simbólico, ao cortar a orla do manto de Saul.


v. 5 sentiu Davi bater-lhe o coração. Embora Davi posteriormente chegasse a exibir essa orla do manto de Saul como prova da sua lealdade para com Saul (v.11), suas dores de consciência (cf. II Sm 24:10) sugerem que o desejo de obter semelhante prova pode não ter sido a única razão para ele se aproximar de Saul. Tendo em vista a relevância régia desses mantos (15:28; 18:4; 19:24), Davi pode ter se sentido culpado por cobiçar erroneamente a realeza e por um ato de agressão contra o ungido do Senhor (v.6).



Vejamos também o que diz em segunda Samuel 6:20 : Voltando Davi para abençoar a sua casa, Mical, filha de Saul, saiu a encontrar-se com ele e lhe disse: Que bela figura fez o rei de Israel, descobrindo-se, hoje, aos olhos das servas de seus servos, como, sem pejo, se descobre um vadio qualquer!


NOTA: descobrindo-se - Davi tirara suas vestes externas e, em lugar delas, trajava apenas uma estola sacerdotal de linho. (v.14)



Mical condenou a Davi, somente por despojar-se das roupas externas, que identificava a sua realeza, ainda que Davi havia vestido a estola sacerdotal, mas para Mical ele estava descoberto, sem roupas, devido à sua majestade. Um rei não poderia apresentar-se sem as suas vestes reais, que o identificaria como o rei, Jônatas deu voluntariamente a sua capa a Davi, em 18:4, crendo que Davi seria o rei levantado por Deus.


Davi compreendeu que diante do rei dos reis, não há rei, nem majestade, somos todos plebeus, pois somente um rei deveria ser identificado e este rei é Iahweh. Aquilo que Saul não compreendia em sua posição, o Espírito de Deus o fez compreender.


Um homem quando entra na presença de Deus, não há posição, nem status social, não importa o seu doutorado, por que tudo isto perde o valor diante de Deus, pois ele diz: Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória pois a outrem não darei. (Isaias 42:8)



A Bíblia de Jerusalém diz a respeito de Isaias: Isaias 20:2 falou Iahweh por intermédio de Isaías, filho de Amós, e disse: "Eia, meio pano de saco de sobre os teus lombos e descalça as sandálias dos teus pés". Ele assim fez, andando nu e descalço. 3 Então disse Iahweh: "Da mesma maneira que o meu servo Isaías andou nu e descalço durante três anos - sinal e presságio que diz respeito ao Egito e a Cuch -, 4 dessa mesma maneira o rei da Assíria levará os cativos do Egito e os exilados de Cuch - jovens e velhos - nus e descalços, com as nádegas descobertas - vergonha do Egito,


NOTA: Eia, meio pano de saco sobre os teus lombos. Aqui a Bíblia de Jerusalém, traduz mais corretamente como que diminua o tamanho de seu vestido, encurtando-o para se parecer como um daqueles que é levado a cativeiro. Veja que no verso 4, Iahweh descreve de como seria levado a cativeiro os Egípcios e os exilados de Cuch, o Senhor acrescenta mais à sua vergonha, de que eles além de serem levados cativos, a vergonha seria tão grande que mesmo as suas nádegas estariam a exposição de todos os outros povos. Iahweh esclarece que realmente iriam mostrando as nádegas. Os homens quando eram levados para cativeiro, tinham sobre sua pele apenas os farrapos de suas vestes, devido a batalha e a falta de tempo de se preparar a mala e trocar de roupa.



Iahweh, não diz que Isaías deveria mostrar as nádegas, se assim ele quisesse que Isaías deveria andar. Em uma total nudez, ainda que as profecias fossem tipificadas, não havia a necessidade de Isaías andar em pelo durante um período de três anos. Certamente seria impedido pela sociedade Egípcia, que era uma sociedade organizada, mas Isaías se viu privado de suas vestes que o identificava como profeta. Vemos que um profeta, para ser visto como profeta teria que estar vestido como profeta. Após o período de Elias, quase todos os profetas passaram a usar uma nova roupa, feita de pêlos de camelo e um cinto de couro.



Mateus 3:4 E este João tinha o seu vestido de pêlos de camelo, e um cinto de couro em torno de seus lombos; e alimentava-se de gafanhotos e de mel silvestre.


II Reis 1:8 E eles lhe disseram: Era um homem vestido de pêlos, e com os lombos cingidos dum cinto de couro. Então disse ele: É Elias, o tesbita.



Elias trajava uma tanga e uma veste solta I Reis 18:46 A mão de Yahweh esteve sobre Elias, ele cingiu os rins e correu diante de Acab até a entrada de Jezrael. (Bíblia de Jerusalém) [ Na Bíblia de Almeida está cingiu os lombos que é a mesma coisa. Cingir os lombos era levantar a ponta de sua túnica prendendo-a no seu cinto, em preparação para uma viagem ligeira.] Está será também a indumentária de outros profetas Zacarias 13:4 E acontecerá naquele dia que os profetas se envergonharão, cada um da sua visão, quando profetizarem; nem mais se vestirão de manto de pêlos, para mentirem. Os falsos profetas negarão ser profetas por temor à punição e recusarão o traje que, tradicionalmente, representava um profeta. O novo Elias também usava esse modelo de traje. Diz os teólogos, que quando se levantava um profeta e este era reconhecido pelo povo, então o profeta recebia um batismo e após o batismo (unção) ele recebia novas roupas. Certamente as novas roupas eram feitas de pêlos e couro de animais.


A Bíblia Almeida Revista e Corrigida diz: Is 20:2 - E falou o Senhor, pelo mesmo tempo, pelo ministério de Isaías, filho de Amós, dizendo: Vai, solta o cilício de teus lombos, e decalca os sapatos dos teus pés. E assim o fez, indo nu e descalço.


A Bíblia de Estudo de Genebra diz: Is 20:2 - nesse mesmo tempo, falou o SENHOR por intermédio de Isaías, filho de Amoz, dizendo: Vai, solta de teus lombos o pano grosseiro de profeta e tira dos pés o calçado. Assim ele o fez, indo despido e descalço.


NOTA: 20:2 pano grosseiro... tira dos pés o calçado. O Senhor ordenou que Isaías se vestisse parcialmente, como um cativo que estivesse indo para o exílio. O cilício ou pano grosseiro era uma veste usada em ocasiões de luto (15:3; 22:12; 37:1-2; 58:5), ou então as vestes distintamente proféticas (II Rs 1:8; Zc 13:4).



A passagem que se inicia com o v.19 indica que Saul perseguia o seu genro, o jovem Davi, o qual havia ido para Naiote, em Ramá. Ele recebera informação de que Davi estava ali, entre os profetas que haviam sido treinados para o serviço do Senhor sob a liderança de Samuel. Assim foi que Saul enviou seus soldados para prenderem Davi e leva-lo preso.


Quando os sicários do rei chegaram lá, porém, e contemplaram a figura augusta do próprio Samuel, e seus assistentes religiosos engajados em um culto de louvor ao Senhor, eles mesmos ficaram sob a influência do Espírito Santo. Incapazes de controlar-se, ou de desempenhar o serviço para o qual haviam sido enviados àquele lugar, nada mais podiam fazer senão entregar-se à mesma emoção e unir-se ao cântico e às expressões de louvor e adoração diante do Senhor. Naquele momento, aqueles homens sentiram-se totalmente incapazes de cumprir sua missão; deveriam voltar a Saul de mãos vazias.


Depois que o mesmo acontecera a duas outras equipes de soldados que Saul enviara em busca do grupo de Samuel, o rei finalmente decidiu executar ele mesmo aquele trabalho. Até então se mantivera retraído, evitando um confronto direto com Samuel, com quem ele se desentendera após o episódio de Gilgal ( I Sm 15:17-35). Nessa ocasião, o profeta havia declarado que Saul havia sido rejeitado por Deus - deixaria de ser rei. Ele não se atrevera a enfrentar de novo aquele temível homem de Deus, mas agora achava que não lhe restava outra alternativa.


Além disso, Saul era atacado por acessos de depressão psicótica, exibindo mudanças extremadas de humor (cf. I Sm 16:14-23; 18:10,11; 19:9). Quando ele se aproximou do grupo que cultuava a Deus, sob a direção de Samuel, o rei se viu tomado por uma grande alegria, motivada pelo ambiente, e nem sequer conseguiu controlar-se. Pôs-se ele próprio a dançar, a dançar, cantar e gritar ao lado dos profetas. A percepção do extraordinário poder, da presença da glória de Deus arrebatou esse perverso rei, a ponto de ele lembrar-se de sua experiência avivalista anterior, perto de Betel (I Sm 10:5,610), quando foi convocado para ocupar o trono de Israel. Saul sucumbiu à mesma alegria outra vez.


Diferente dos demais participantes do culto, Saul foi tão arrebatado pelo seu entusiasmo, que chegou a despir as sua roupas reais, enquanto gritava e dançava até que, exausto, entrou em colapso e caiu ao solo, onde ficou prostrado em um estado de estupor ou transe pelo resto do dia e a noite toda ( I Sm 19:24). Sem dúvida alguma essa humilhação se lhe abateu como julgamento divino, visto que em seu coração ele se opunha radicalmente à vontade de Deus, sempre que essa reprovava a sua ambição pessoal.


Diante do Rei dos Reis, Saul foi despojado de sua realeza, ficando por um espaço de tempo diante dos profetas e de Samuel, despido de seu manto e assim Deus mostrava que tirava naquele momento de uma por todas as vezes o reino das mãos de Saul. Eu entendo que Deus não feriria a sua lei moral, deixando um homem só em pelos diante de seus ministros, e de outras pessoas que provavelmente passariam por ali. (Ex. 20:26; Lv. 16:4; )



OBS.: Entendo claramente que Saul, foi despojado de tudo que lembrava a sua realeza, ficando tão somente vestido como uma pessoa comum, a qual ele deveria ter entendido que o era, e que somente Deus é Rei Soberano. Saul perdeu a sua roupagem de glória, ficando assim despido de toda a glória que outrora ele detinha como rei terreno, para o Rei Eterno e Celestial.

Um comentário: